QUEM PARIU MATEUS QUE BALANCE, MAS SÓ QUEM PARIU


Aquele velho ditado que pouco sabemos a origem, uns citam um romano deixado numa porta de uma moradia e não foi acolhido, porém mandado e pra outra e pra outra e pra outra... outros citam santo que arrecada impostos antes de virar santo, entretanto ele está, não só na ponta, mas como em toda extensão da nossa língua:   “quem pariu Mateus que balance”, este mesmo me veio à cabeça após um acontecimento. Mulheres parem Mateus todos os dias, elas balançam e balançam, obrigatoriedade de mãe, cê sabe, né? 
Esses dias vi um pai balançando uma criança e me espantei. Sentei próximo a ele, numa praça, daquelas que não têm banco, que a gente senta nas laterais dos jardins centrais, acho que esse tipo de praça é feito para as crianças correrem. Pois bem, esse tal que balançava estava ao lado de um, aparentemente, colega, este último nada balançava, como já disse: é caso raro quem não pariu balançar. Os dois estavam lá conversando, e eu como um bom curioso – se eu fosse cronista seria chamado de ‘observador’ – fui corujando o mei de conversa.
–  Moço, não sei por que tu ainda não foi relaxar, tem quem balance essa criança e tu tá aí perdendo tempo. Deveria aproveitar esses 5 dias, não sei pra que tantos dias só pra olhar um bebê, e fazer um bico em outro canto ou folgar mesmo.
O que balançava, só abria um sorriso sem rir e balançava. Porém o, aparentemente, colega insistia:
– Cara, tu tá imune a balançar, várias leis ou a falta delas te asseguram, por exemplo,  lá na loja tu só tem 5 dias pra ficar o dia todo com a criança, não tem nenhum lugar dizendo que é pra tu acompanhar a recém-parida de resguardo, eu sei que tu tá fazendo isso. Vou te falar outro caso, o do estagiário que a namorada pariu, ele não teve um dia se quer pra folgar, repito; quem tem emprego que nem a gente tem que folgar, e outra, ela pariu cesariana, disseram que ela não tem parente por aqui, mas é obrigação dela balançar. Esse estagiário tá fazendo faculdade, lá também não tem licença, ou seja, ele é pai, mas não precisou e nem pode parar nada em sua vida... e a mulher? Ah, ela se vira, quem pariu Mateus que balance! 
E é o que eu tô falando, a gente não tem obrigação de tá fazendo isto. Vou te contar outro caso, sabe o José de Zefa, da filial de Capim Grosso tava querendo acompanhar o parto da mulher dele, que foi transferida pra cá, por complicações, se ligue, não deixaram e eu já presumia. Disseram que na sala de parto havia outras mulheres e que ele iria expô-las. O cara ficou iludido pela lei 11. 108, só sei dessa lei porque fui fazer um trabalho lá e ele não parava de falar dela a semana toda, e ele só sabia dessa lei por causa da sua mulher, Maria de Francisca. 
Ela fez o cara estudar a lei desde o oitavo mês, e eu falando que não precisava, que a gente não precisa, ele insistiu, e como eu já sabia que não iria acompanhar nada, ele me ligou e tudo, disse também que a tal lei fez 10 anos e não passa de uma mentira, que é um absurdo a mulher dele ter só 5 dias de ajuda, que essas lei são ridículas porque são feitas por homens na câmara e no senado, além do que todas essas leis e diretos que foram conquistadas pelas mulheres não são cumpridas pelo fato de serem leis pra mulheres e outro monte de blá blá blá.
Continuei com minha espiância, e arribei mais as orelhas. O, aparentemente, amigo seguiu.
– Já falei, não precisamos, temos total direito de não exercemos paternidade, é facultativa. Pra tu ver como isso que tô falando é real, meu avô ensinou a minha mãe que ele não tinha responsabilidade sobre ela ou as irmãs e irmãos, nem meu pai tinha responsabilidade de cuidar de nós que quando minha esposa pariu há alguns meses e falou que era obrigação minha diminuir a carga horário no emprego e cuidar da nossa menina mesmo que ganhasse um pouco menos de dinheiro, então liguei pra mamãe pedindo conselho, ela me falou:
“Você é besta ou tá chupando bila, meu filho? Vai atrasar sua vida por causa de criança que ela pode cuidar muito bem. Eu mesma, criei tu e teus irmãos sem teu pai nem pegar vocês no colo, homem tem que trabalhar e botar comida na casa, e não ficar em casa. Eu sei que tua mulher trabalha fora, mas isso não é trabalho de homem.” Só besta como tu, Zé... e o estagiário que insistem em assumir algo que não é nossa responsabilidade.
O que balançava apenas disse que deu a hora dele ir, pois só tinha pedido a cunhada que cuidasse de sua esposa enquanto dava uma volta na praça com aquela criança que balançara, e foi andando. O, aparentemente, colega ainda gritou após alguns passos do outro: “Quem pariu Mateus que balance!”. E o que balançava se foi, também fui andando, em busca de outra conversa pra curiar.

03/10/15 05h05min 

Esta crônica faz parte do ebook Entre Quartos & Ruas, disponível na Amazon: http://abre.ai/entrequartoseruas



Comentários